A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 16 de mai.
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“A paz não tem preço, tem valor.” - Wilson Alberto
Brasil
A ata do Copom reiterou a incerteza e a adversidade do ambiente externo, agravado pela guerra tarifária promovida pelo governo Trump, o que exige cautela por parte dos países emergentes. Ainda assim, o comitê mantém seu cenário base, que projeta uma desaceleração da atividade econômica, ainda refletindo os recentes aumentos da taxa Selic. Esse cenário tende a aliviar as pressões sobre o mercado de trabalho e, possivelmente, sobre a inflação — cujas expectativas, no entanto, seguem desancoradas, o que causa desconforto ao comitê.
O destaque negativo da semana foi o rumor de que o governo prepara um pacote de “bondades” com o objetivo de recuperar a popularidade, o que gerou apreensão no mercado. Segundo a revista Veja, o Planalto pretende anunciar, já em janeiro, o aumento do valor do Bolsa Família, a ampliação do vale-gás, a criação de novas linhas de crédito para microempreendedores, a isenção da conta de luz para 60 milhões de pessoas inscritas no CadÚnico, entre outras medidas.
A adoção de tais políticas em um ano eleitoral tende a aprofundar ainda mais o déficit fiscal, que, inevitavelmente, exigirá duras reformas a partir de 2027. Coincidência ou não, especula-se que o ministro Fernando Haddad — que ficou de fora da comitiva à China nesta semana — deva deixar o cargo no início de 2026 para se candidatar ao Senado ou ao governo de São Paulo (à Presidência, suas chances seriam mínimas). Essa saída serviria de pretexto para que seu sucessor abandonasse o compromisso com a responsabilidade fiscal, a fim de implementar a agenda eleitoreira do Planalto.
O presidente da Câmara, Hugo Mota, que até então vinha reforçando a importância do equilíbrio fiscal, já deu sinais de flexibilização nas medidas destinadas a compensar a isenção do Imposto de Renda.
Quanto ao pacote de bondades de Lula, é inegável que, caso implementado, trará algum alívio pontual à população mais carente. No entanto, trata-se de uma medida com impacto limitado no médio e longo prazo, sobretudo quando comparada aos benefícios que poderiam ser alcançados por meio de uma condução mais responsável da política fiscal, ancorada em reformas estruturantes.
EUA
O Walmart, maior varejista dos Estados Unidos, divulgou um balanço trimestral sólido e manteve seu guidance para o restante do ano. No entanto, a empresa alertou que o aumento das tarifas de importação deverá forçá-la a reajustar os preços nas lojas.
Após meses de turbulência, esta parece ter sido a melhor semana do governo Trump, marcada por avanços diplomáticos e recuos em medidas e discursos de tom beligerante. A Casa Branca sinalizou um possível acordo nuclear com o Irã, um cessar-fogo com os Houthis (com a anuência do Irã), uma trégua no conflito armado entre Paquistão e Índia, além do anúncio de investimentos bilionários de países árabes nos Estados Unidos.
Juros EUA
Os índices de inflação divulgados nesta semana revelaram uma retração inesperada e bem-vinda. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) veio abaixo das estimativas: tanto o índice cheio quanto o seu núcleo apontaram uma inflação de 0,2% em abril, ante uma expectativa de 0,3%. Com isso, o acumulado em 12 meses recuou de 2,4% para 2,3%.
É importante destacar, no entanto, que os impactos das novas tarifas ainda não estão refletidos nesses números de abril; devem aparecer apenas nos dados de junho e julho. Já o Índice de Preços ao Produtor (PPI), também referente a abril, apontou uma deflação inesperada de -0,5%, enquanto o núcleo registrou uma retração de -0,1%.
Esses resultados reforçam a expectativa de que o Federal Reserve possa ter espaço para iniciar cortes de juros no segundo semestre, apesar do tom cauteloso da autoridade monetária em relação ao comportamento atual da inflação.
Mercados Globais
Os mercados abriram em forte alta na segunda-feira, impulsionados pelo anúncio de um acordo entre Estados Unidos e China. Embora não se trate de um tratado de paz, mas apenas de um cessar-fogo, o gesto foi suficiente para sinalizar que a racionalidade econômica deverá prevalecer.
Os EUA concordaram em reduzir as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China diminuiu as suas de 125% para 10%. Essa suspensão terá duração de 90 dias e, até lá, espera-se que ambos os lados percebam os respectivos impactos e considerem tornar as medidas permanentes — ou até mesmo ampliá-las com novas reduções.
O ponto alto da reunião foi, sem dúvida, o anúncio de que nenhuma das partes tem interesse em um processo de decoupling (dissociação) entre as economias, que são profundamente interdependentes.

Fechamento da semana - números coletados às 15:00h desta sexta-feira |
O pacote de bondades, esperado pelo governo Lula, não impactou negativamente a Bovespa nem o IFIX, que seguem em alta no acumulado do ano. No entanto, provocou uma reação no câmbio, com o dólar voltando a flertar com os R$ 5,70, e nos juros futuros — o contrato de DI para janeiro de 2027 superou os 14%.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 refletiu a melhora da diplomacia americana e zerou as perdas no ano, impulsionado por um forte movimento de recuperação que levou o índice a subir 22% desde sua mínima, registrada no início de abril. A cotação do petróleo também apresentou recuperação, com o preço do barril avançando mais de 2% na semana, influenciado pela expectativa de um possível acordo nuclear entre os EUA e o Irã.
Na Europa, o Euro Stoxx 50 vem tendo um desempenho positivo, acumulando alta de quase 12% no ano. A União Europeia observa crescimento em alguns setores estratégicos, especialmente o militar, que tem se beneficiado do vácuo deixado pelos Estados Unidos em determinadas frentes geopolíticas.
Até a próxima semana!
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