A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 24 de out.
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“Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra a de os satisfazermos.” - Oscar Wilde
Apesar das incertezas fiscais, os ativos de risco brasileiros continuam se beneficiando dos ventos internacionais favoráveis, entre eles a queda estrutural do dólar e o fluxo de investimentos direcionado aos países emergentes. Nesta semana, a Bovespa encerrou em alta mais uma vez, enquanto o dólar e os juros futuros recuaram, impulsionados pela divulgação do IPCA-15 nesta sexta-feira.
O mercado mantém a expectativa de que o impasse comercial entre Estados Unidos e China seja resolvido e que o pragmatismo prevaleça. Já a paralisação (shutdown) do governo americano começa a gerar preocupação ao entrar na quarta semana sem solução. Com poucos indicadores econômicos sendo divulgados, os resultados trimestrais corporativos ganham destaque e evidenciam a resiliência das empresas americanas diante de um cenário de incertezas.
Brasil – Política
A equipe econômica decidiu fatiar a MP 1303 em dois Projetos de Lei (PLs) na tentativa de aprová-los e, assim, obter a compensação necessária para o cumprimento da meta fiscal. Em um dos projetos, o governo propõe a revisão dos gastos tributários (isenções fiscais), com impacto estimado entre R$ 15 e R$ 20 bilhões. O segundo PL prevê aumento de tributos, entre eles o IOF, a CSLL para fintechs e o IR sobre apostas esportivas (“bets”), além da limitação das compensações tributárias. O governo demonstra disposição para insistir, inclusive em medidas já rejeitadas, a fim de cumprir o intervalo de tolerância da meta fiscal em um cenário pré-eleitoral marcado por aumento de gastos e concessão de benefícios.
O ministro Alexandre de Moraes suspendeu o julgamento no STF sobre a desoneração da folha de pagamentos, após três votos favoráveis ao governo, isto é, à reoneração gradual entre 2025 e 2027.
Segundo a AtlasIntel, pela primeira vez desde outubro de 2024, a avaliação “ótimo/bom” do governo Lula superou a “ruim/péssimo”. A pesquisa também indica que Lula venceria qualquer adversário de direita em um eventual segundo turno nas eleições de 2026.
O presidente Lula, que completará 80 anos na próxima semana, anunciou sua intenção de disputar um quarto mandato em 2026.
Brasil – Indicadores Econômicos
O Boletim Focus do Banco Central reduziu novamente as projeções de inflação: o mercado agora espera um IPCA de 4,70% para este ano e de 4,27% para 2026.
O dado mais aguardado da semana foi a prévia da inflação (IPCA-15), que mostrou desaceleração de 0,48% em setembro para 0,18% em outubro. O resultado, abaixo das estimativas de 0,24%, foi bem recebido pelo mercado e fez a inflação acumulada em 12 meses recuar de 5,32% para 4,94%. O número reforça a tendência de arrefecimento inflacionário e abre espaço para que o Banco Central possa iniciar a flexibilização da política monetária no começo de 2026.
Os investidores aguardam ansiosamente o início do ciclo de queda dos juros, adiado até agora pelo Banco Central devido aos estímulos fiscais promovidos pelo governo, que continuam exercendo pressão sobre os preços.
EUA
A paralisação (shutdown) do governo americano já se estende por 24 dias, configurando o segundo maior da história. Já foram dez tentativas frustradas de votar o orçamento, que permanece em impasse entre republicanos e democratas. O prolongamento da crise tem contribuído para deteriorar a imagem de estabilidade política e de porto seguro que os Estados Unidos desfrutaram por tanto tempo diante do mundo.
O índice de preços ao consumidor (CPI) de setembro apontou alta de 0,3%, abaixo das expectativas e do número anterior, de 0,4%. O núcleo da inflação, indicador mais relevante, registrou 0,2%, também inferior à estimativa e ao resultado anterior, ambos de 0,3%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 3%, tanto na medida cheia quanto no núcleo.
O presidente Donald Trump decidiu suspender as negociações com o Canadá, historicamente um dos maiores aliados e parceiros comerciais dos EUA, devido a divergências tarifárias. O gesto, embora não surpreendente, reforça a imprevisibilidade e a impulsividade do presidente nas tratativas com seus parceiros econômicos.
Na próxima semana, o Federal Reserve se reunirá, e o mercado aposta em um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros.
A dívida pública americana atingiu 119% do PIB, enquanto o déficit anual supera 7%. A dívida bruta federal ultrapassou US$ 38 trilhões, com um aumento de US$ 1 trilhão em apenas dois meses. São números preocupantes, que minam a credibilidade da política fiscal dos EUA e, consequentemente, reforçam o enfraquecimento do dólar, levando investidores a buscar proteção em outros ativos, especialmente ouro e prata.
China
O crescimento do PIB chinês desacelerou para 4,8% no terceiro trimestre, em linha com as expectativas. A economia avança impulsionada pela produção industrial e pelas exportações, mas o consumo doméstico segue limitando um avanço mais robusto.
Após a queda nas exportações de terras raras em setembro, o governo chinês tenta, sem sucesso, tranquilizar os investidores de que os controles mais rigorosos sobre as remessas não afetarão o comércio internacional.

O Ibovespa e o real brasileiro continuam se beneficiando do fluxo positivo de investimentos direcionado aos países emergentes, impulsionado pelo atual enfraquecimento do dólar. Ainda assim, o volume de entrada de capitais permanece abaixo da média histórica dos últimos dez anos. Caso haja um retorno a essa média, o Brasil poderia, em teoria, receber um fluxo adicional de cerca de US$ 24 bilhões anuais. Nesta sexta-feira, após a divulgação do IPCA-15, a curva de juros apresentou forte fechamento (queda das taxas) em todos os vértices dos contratos futuros de DI, refletindo o otimismo do mercado diante dos números de inflação.
O ouro e a prata registraram uma das maiores quedas das últimas décadas nesta semana, após ambos os metais atingirem níveis recordes de valorização. O movimento de correção ocorreu na esteira da alta expressiva observada na semana anterior, em meio a uma valorização pontual do dólar, que se beneficiou das expectativas de um possível acordo nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China.
O comportamento dos Treasuries, com rendimentos abaixo de 4% e testando a faixa de 3,95%, reflete certo otimismo do mercado quanto à continuidade dos cortes de juros pelo Federal Reserve.
A disparada do petróleo nesta semana foi motivada pelas sanções impostas pelos Estados Unidos às gigantes russas Rosneft e Lukoil, mais uma tentativa do governo Trump de sufocar uma das principais fontes de financiamento do governo russo na guerra da Ucrânia. A Índia importa aproximadamente um terço de seu petróleo da Rússia, enquanto o petróleo russo representa cerca de 20% das importações chinesas do insumo.
Na próxima quarta-feira, o mercado aguarda um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica americana (Fed Funds Rate), que deve ser reduzida de 4,25% para 4,00%. O comunicado pós-decisão será acompanhado de perto pelos investidores, em busca de sinais sobre os próximos passos da autoridade monetária. No dia seguinte, está prevista uma reunião entre Donald Trump e Xi Jinping, que pode redefinir a relação comercial entre o maior importador (EUA) e o maior exportador do mundo (China).
Até a próxima semana!

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