A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 23 de mai.
- 3 min de leitura
“A luz viaja mais rápido que o som. Por isso algumas pessoas parecem brilhantes até você ouvi-las falando. - Anônimo
EUA
A semana começou com o mercado digerindo o rebaixamento da nota de crédito dos EUA, anunciado no fim de semana passado. A Moody’s, a mais conservadora das três agências de rating, foi a última a tirar o selo AAA da dívida americana. A S&P já havia rebaixado o país em 2011, e a Fitch fez o mesmo em 2023.
A decisão não foi uma surpresa, e alguns analistas questionaram a demora em reconhecer que a trajetória da dívida americana caminha para um nível insustentável. A razão, talvez, tenha sido uma antecipação da agência sobre o projeto orçamentário apresentado esta semana por Trump, que foi aprovado por uma margem estreita no Congresso americano.
O Congresso americano aprovou o projeto orçamentário de Trump, que prevê cortes de impostos e isenções fiscais. Com isso, o déficit fiscal dos EUA — que já está em 6,4% do PIB (US$ 2,4 trilhões) — pode aumentar em US$ 5 trilhões nos próximos anos, caso confirmado pelo Senado.
Os EUA ainda se beneficiam da crença do "excepcionalismo americano" e também por serem os emissores do dólar, moeda de reserva global. Com isso, conseguem financiar déficits inimagináveis para qualquer outra nação. No entanto, nada dura para sempre. A política isolacionista de Trump pode acelerar um movimento, ainda que incipiente, de diversificação monetária por parte de outros países — embora essa possibilidade permaneça improvável no curto prazo.
O mercado já reagiu: após a aprovação do orçamento, houve uma forte venda de Treasuries de 30 anos, com investidores buscando reduzir exposição ao dólar. Os yields desses títulos ultrapassaram 5% ao ano, enquanto os Treasuries de 10 anos superaram 4,5% — refletindo preocupações com a sustentabilidade fiscal americana.
Brasil
No Brasil, o destaque foi o relatório bimestral de receitas e despesas. Esperava-se um decreto de contenção de gastos na ordem de R$ 15 bilhões para cumprir a banda inferior do arcabouço fiscal (déficit de 0,25% do PIB). No entanto, o governo superou as expectativas: bloqueou R$ 10,6 bilhões e contingenciou mais R$ 20,6 bilhões em despesas discricionárias, totalizando R$ 31 bilhões de ajuste.
Porém, a notícia foi seguida por um anúncio surpresa: um aumento significativo do IOF em diversas operações financeiras, desde empréstimos a empresas até compra e remessa de dólares ao exterior. Até mesmo contribuições ao VGBL seriam taxadas em 5% se ultrapassassem R$ 50 mil. Segundo o ministro Fernando Haddad, as medidas visavam "corrigir distorções", mas foram implementadas sem debate prévio com a sociedade ou o Congresso.
Outro ponto preocupante foi a justificativa para o reforço no contingenciamento: o aumento "inesperado" de despesas obrigatórias (4% acima da inflação), incluindo um déficit previdenciário adicional de R$ 16,7 bilhões apenas em 2025.
A equipe econômica afirmou que a mudança no IOF foi combinada com o Banco Central, mas Gabriel Galípolo (Presidente do BC) negou ter sido consultado, evidenciando falta de articulação e planejamento na condução da política econômica. Diante da reação negativa do mercado, Haddad recuou horas depois, revogando parte das medidas.

Nesta sexta-feira, os investidores respiraram aliviados com o recuo do governo nas propostas de aumento de impostos, após a forte reação negativa ao anúncio surpresa do ministro Haddad. O Ibovespa encerrou com perda moderada de 1,4%, enquanto o dólar recuou para R$ 5,66, ante R$ 5,75 - um movimento que contrariou a queda da moeda americana no exterior, onde o índice DXY acumulou baixa de 1,8% na semana.
Os Treasuries de 10 anos, que haviam sofrido pressão vendedora após a aprovação do polêmico orçamento de Trump, se estabilizaram, fechando a semana com alta de apenas 5 pontos-base em seus yields. A incerteza fiscal americana pesou sobre o dólar, beneficiando ativos de hedge contra incertezas, como o ouro, que subiu 4% na semana e acumula impressionantes 28% de valorização no ano.
Até a próxima semana!
Comments