A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 6 de jun.
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“Bom de briga é aquele que cai fora.” - Adoniran Barbosa
Os investidores acompanharam de perto a movimentação em Brasília após o prazo de dez dias concedido por Hugo Mota a Fernando Haddad, para que o ministro apresentasse uma alternativa ao aumento do IOF, cujo decreto seria suspenso pela Câmara ao final desse período. Rumores sobre um pacote consistente, voltado para o enfrentamento estrutural do problema fiscal, circularam e trouxeram alívio ao mercado. No entanto, ao longo da semana, o otimismo inicial deu lugar ao ceticismo, com Haddad anunciando que as propostas só serão reveladas neste domingo.
Nos Estados Unidos, Donald Trump reacendeu a guerra tarifária ao elevar de 25% para 50% a alíquota de importação sobre aço e alumínio provenientes da China. O que mais chamou a atenção, entretanto, foi o embate público entre o presidente e Elon Musk. Após deixar de apoiar o governo republicano, Musk passou a criticar duramente o pacote fiscal aprovado na Câmara e que agora aguarda votação no Senado. Mais detalhes, a seguir.
Brasil
A semana começou com rumores de que, ciente da gravidade do problema fiscal, o governo finalmente consideraria alternativas estruturais capazes de corrigir o rumo das contas públicas. Entre as medidas especuladas estavam uma revisão abrangente dos benefícios tributários — que devem ultrapassar R$ 800 bilhões apenas neste ano —, a contenção do crescimento do Fundeb, uma possível PEC para retirada dos pisos constitucionais da Educação e da Saúde e, até mesmo, a desvinculação dos reajustes de benefícios sociais do salário mínimo. Voltou-se a falar, inclusive, em uma reforma administrativa para conter de vez os supersalários do funcionalismo público, além de uma eventual reforma da Previdência dos militares.
No entanto, ao longo da semana, esse otimismo se dissipou, à medida que o mercado passou a apostar que o pacote de medidas que Haddad deve revelar neste domingo trará, mais uma vez, apenas soluções paliativas. A mudança nas expectativas ocorreu após a informação de que, para ajudar a cobrir o déficit fiscal, o governo federal planeja extrair R$ 40 bilhões adicionais do setor de óleo e gás entre este e o próximo ano. O plano prevê a implementação de uma “reavaliação do cálculo” do PRP (Preço de Referência) da ANP, o que elevaria, de forma arbitrária, os custos de todas as empresas do setor que operam sob o regime de concessão. Mais uma vez, a conta será repassada ao setor privado.
No campo econômico, a produção industrial brasileira recuou 0,3% em abril, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, contrariando a expectativa de crescimento de 0,2%. Quanto à inflação, o IPC desacelerou de 0,45% em abril para 0,27% em maio. O IGP-DI também apresentou desaceleração, passando de 0,30% para uma deflação de -0,85% no mesmo período. Tanto a queda da produção industrial quanto o arrefecimento da inflação contribuem para a consolidação de um cenário de desaceleração econômica, que deve ajudar o Banco Central a encerrar o ciclo de alta da Selic.
EUA
Trump voltou a elevar a temperatura da guerra tarifária nesta semana, ao aumentar as alíquotas sobre aço e alumínio importados de 25% para 50%. Trata-se de uma política populista voltada a agradar a indústria doméstica, mas que deverá elevar os custos para outros setores industriais. Em seguida, o presidente afirmou ter conversado por telefone com Xi Jinping pela primeira vez desde janeiro, classificando o diálogo como proveitoso. No entanto, não revelou detalhes, exceto que a China continuará fornecendo as terras raras de que os Estados Unidos necessitam para sua indústria tecnológica.
A briga pública entre Trump e Elon Musk, entretanto, foi o principal foco do noticiário. As ameaças e trocas de acusações deterioraram ainda mais a imagem dos Estados Unidos no cenário internacional, sob o comando de Trump. Musk criticou duramente o pacote fiscal proposto pelo presidente, afirmando que ele destruiria as finanças públicas americanas, ao que Trump respondeu ameaçando cortar contratos governamentais com as empresas do empresário. A disputa escalou para o campo pessoal: Musk acusou Trump de ingratidão — por seu apoio e ajuda nas eleições — e de manter ligações com Jeffrey Epstein. Além disso, declarou apoio ao impeachment do presidente. Como reflexo, as ações da Tesla caíram mais de 15% na semana.
Um dado econômico divulgado no meio da semana causou preocupação entre os investidores: o relatório ADP, que mede a criação de empregos no setor privado. A média dos últimos dois anos girava em torno de 110 mil novas vagas mensais. Em abril, esse número já havia caído para 60 mil. Em maio, a expectativa era de uma recuperação para 111 mil vagas, mas o número real despencou para apenas 37 mil, revelando uma fragilidade muito maior do que o esperado. Já nesta sexta-feira, o relatório Nonfarm Payroll — que também mede a criação de empregos, mas com uma metodologia diferente e incluindo empregos no setor público — apresentou um cenário menos preocupante. Em maio, a economia americana gerou 139 mil novas vagas, número inferior aos 147 mil de abril, mas acima das projeções dos economistas, que esperavam 126 mil.
Os investidores seguem à espera de um cenário econômico que seja fraco o suficiente para levar o Federal Reserve a considerar um corte nos juros, mas não tão fraco a ponto de sinalizar uma recessão iminente. O relatório ADP causou apreensão, mas o Payroll trouxe certo alívio ao mercado.
Europa
Nesta semana, foram divulgados o CPI e o PPI da zona do euro. O Índice de Preços ao Produtor (PPI) registrou mais uma deflação mensal: após recuar -1,7% em março, caiu -2,2% em abril. Já o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) anualizado desacelerou de 2,2% em abril para 1,9% em maio. O Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro no primeiro trimestre surpreendeu positivamente, com crescimento anualizado de 1,5%, acima da expectativa de 1,2%.
Com a inflação sob controle, o Banco Central Europeu (BCE) realizou seu quarto corte consecutivo na taxa básica de juros neste ano, reduzindo-a de 2,40% para 2,15%.

Fechamento da semana - números coletados às 15:00h desta sexta-feira |
Pela terceira semana consecutiva, o Ibovespa devolve parte dos ganhos acumulados no ano, que agora somam 13%. O dólar voltou a cair abaixo dos R$ 5,60, encerrando a semana em queda de 2,6% e acumulando uma perda de quase 10% no ano.
O DI para janeiro de 2027, entretanto, subiu 25 pontos-base, atingindo uma taxa de 14,39%, apesar dos índices inflacionários favoráveis (IPC e IGP-DI). Declarações mais firmes do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre a inflação, somadas a um cenário fiscal ainda distante de solução, contribuíram para a alta da taxa futura.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 avançou 1,5%, elevando o ganho acumulado no ano para 2% — um desempenho modesto diante da bolsa brasileira e dos mercados europeus. O ouro mantém-se firme diante do cenário de incerteza e, embora tenha valorizado apenas 1% na semana, acumula alta de 26,6% no ano.
O mercado brasileiro deve abrir os negócios na segunda-feira digerindo o plano do ministro Haddad para equilibrar as contas públicas, que será divulgado no domingo, após reunião com líderes partidários no Congresso.
Até a próxima semana!
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