A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 20 de jun.
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“Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira.” - Ronald Reagan
A semana começou tensa, com a troca de mísseis entre Israel e o Irã e a possibilidade de o conflito escalar a ponto de envolver outras nações. O alerta da Rússia para que os Estados Unidos não forneçam armamentos a Israel, somado à declaração de Trump orientando os cidadãos de Teerã a evacuarem a cidade — além do ultimato do presidente americano para que o aiatolá “se renda incondicionalmente” — elevou ainda mais as tensões. Até ontem, havia a expectativa de que os EUA atacassem o Irã neste fim de semana, o que azedou o humor dos investidores. Posteriormente, Trump afirmou que decidirá, em até duas semanas, se os Estados Unidos irão ou não se envolver diretamente no conflito.
Brasil - Política
No Brasil, a Câmara dos Deputados aprovou, por 346 votos a favor e 97 contra, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revoga o decreto do governo que havia aumentado o IOF, em uma clara derrota para o Planalto. O governo agora tem duas semanas até a votação do mérito, mas o clima no Congresso é desfavorável.
Chama atenção a coincidência entre o repentino enfrentamento do Congresso e os atrasos na liberação das emendas parlamentares. Até agora, o Planalto empenhou, em emendas individuais e de bancada, pouco menos de 2% dos R$ 50 bilhões prometidos para este ano, mas pagou apenas pouco mais de R$ 5,1 milhões — o equivalente a 0,01% do total.
Na tentativa de reverter a derrota no Legislativo, o presidente Lula aumentou, apenas nesta semana, os valores empenhados: de R$ 94 milhões para R$ 776 milhões. No entanto, a medida veio tarde demais.
Brasil – Indicadores econômicos
O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, mas calculado pelo Banco Central em vez do IBGE, registrou crescimento de 0,2% em abril — acima da expectativa de 0,1% — embora tenha desacelerado em relação a março, quando havia crescido 0,8%.
O IGP-10 de junho, prévia do IGP-M, recuou 1%. Este foi o quarto mês consecutivo sem alta nos preços: dois meses com variação zero e dois meses com deflação.
O mercado estava dividido, e o Copom frustrou a parte que apostava na manutenção dos juros. Nesta quarta-feira, a autoridade monetária elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano. O Comitê sinalizou que não pretende realizar novos aumentos na próxima reunião — e provavelmente também nas seguintes —, mas adotou um tom firme ao afirmar que novos ajustes poderão ser feitos, caso necessário.
Entre os motivos citados estão a inflação, que permanece acima do teto da meta apesar de sinais recentes de arrefecimento, o cenário externo e a ausência de uma âncora fiscal, o que contribui para a manutenção da taxa em níveis elevados.
Os efeitos das altas de juros costumam levar aproximadamente seis meses para se refletirem plenamente na economia. Assim, os aumentos anteriores — incluindo este — ainda deverão impactar a atividade e a inflação nos próximos meses. A visão de que este foi o fim do ciclo de altas é praticamente unânime entre os agentes de mercado. A discussão, agora, gira em torno de quanto tempo a Selic permanecerá em 15% antes do início de um novo ciclo de cortes, que, pelo tom do comunicado pós-reunião, não deve começar tão cedo.
EUA
O Fed fez o que era amplamente esperado e manteve a taxa de juros americana em 4,25%. Em seu comunicado pós-reunião, o FOMC revisou para pior suas projeções de inflação e crescimento, citando as consequências do aumento das tarifas comerciais. Parte dos investidores ainda espera — ou deseja, na verdade — o início de um ciclo de cortes nos juros ainda este ano, mas, pelo tom do comunicado, esse cenário parece pouco provável.
O dólar, que historicamente se fortalece em momentos de incerteza global — com investidores buscando refúgio em uma moeda forte de uma economia sólida —, tem demonstrado uma fraqueza atípica. A política tarifária de Trump, que tende a enfraquecer, e não a fortalecer, a economia americana, somada a um déficit fiscal considerado inaceitável e sem sinais concretos de correção, contribui para esse movimento de desvalorização.
Na semana passada, foi noticiado que, no fim de 2024, o ouro ultrapassou oficialmente o euro como a segunda maior reserva de valor mantida por bancos centrais ao redor do mundo. Desde 2022, a cotação do metal dobrou, impulsionada inicialmente pela guerra na Ucrânia, e continua ganhando força diante do enfraquecimento do dólar.
Desde o início do ano, as expectativas de corte na taxa Fed Funds vinham ganhando força. No gráfico acima, é possível observar a taxa implícita negociada no rates market (mercado de taxas), que apresentou queda de janeiro até abril, quando teve início a guerra comercial promovida por Trump.
A taxa esperada para o final deste ano (linha preta) subiu de 3,25% para acima de 3,75% ao ano. Já a expectativa para o final de 2026, entretanto, vem se mantendo entre 3% e 3,25% — um sinal claro de que os traders estão mais céticos quanto à possibilidade de cortes ainda em 2025, mas não descartam reduções até dezembro de 2026.
Vale lembrar que, ceteris paribus, um corte de juros nos Estados Unidos abre espaço para que o Banco Central do Brasil também reduza a taxa Selic.

O conflito no Oriente Médio vem pressionando os mercados, mas o Ibovespa tem mostrado uma resiliência notável nos dias de maior estresse. Não por acaso, o índice brasileiro acumula alta de 14% no ano, enquanto o S&P 500 recua 0,3%.
Nesta sexta-feira, entretanto, o Ibovespa devolveu os ganhos da semana e recuou 0,1%, com os investidores reagindo à perspectiva de que a taxa Selic permanecerá em 15% por um período mais prolongado do que o esperado. O dólar caiu 0,4%, cotado a R$ 5,52, acumulando uma desvalorização de 10% no ano, acompanhando o Índice do Dólar (DXY), que recua 9% em 2025. Os juros futuros (DI janeiro 2027) subiram 9 pontos-base, para 14,25%, impulsionados pelo tom mais duro do Copom em relação ao início do ciclo de cortes.
Nos Estados Unidos, os investidores mantêm o foco em três frentes: o comportamento da inflação e do mercado de trabalho, os desdobramentos da guerra tarifária promovida por Trump e, agora, a possibilidade de o país declarar guerra ao Irã. Não por acaso, há uma saída de capital dos EUA em direção aos mercados emergentes.
No Brasil, o investidor seguirá atento ao cenário político, às medidas que o governo tentará implementar em busca do equilíbrio fiscal e à forma como o Congresso responderá a essas iniciativas.
Até a próxima semana!
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