top of page

A semana em 5 minutos

  • joaobourdon8
  • 11 de jul.
  • 5 min de leitura
“Quando for tirar a cobra do buraco, use sempre a mão dos outros” - Provérbio siciliano

A semana foi longa e começou tensa, com os mercados atentos ao que realmente ocorreria em 10 de julho, data marcada para o fim da trégua nas tarifas recíprocas impostas por Trump. Os investidores esperavam um recuo por parte do presidente, mas não foi isso o que aconteceu. Trump retomou os ataques contra seus parceiros comerciais — incluindo o Brasil — impondo tarifas que, em sua maioria, são economicamente inviáveis. As novas tarifas, entretanto, ainda não entraram em vigor e estão previstas para começar em 1º de agosto, o que abre outra janela para negociações até lá. Os mercados americano, europeu e asiático não reagiram negativamente, talvez apostando na possibilidade de uma solução razoável. Já os ativos brasileiros sofreram forte desvalorização, refletindo o impacto direto da medida sobre a economia nacional.

Brasil – Política

Brasília segue marcada pelo embate entre o Planalto e o Congresso. Nesta semana, o ministro Fernando Haddad reuniu-se com Davi Alcolumbre e Motta para discutir uma solução para o IOF, que Haddad insiste. No entanto, o impasse permanece, com Alcolumbre afirmando que não haverá mais aumentos de impostos.


A campanha de Lula — “nós contra eles” — ganhou novo fôlego ao utilizar a inteligência artificial para produzir e divulgar diversos vídeos com a narrativa “ricos contra pobres”. Alguns desses vídeos têm gerado grande repercussão nas redes sociais. Embora o efeito possa ser temporário, foi suficiente para reverter, ao menos momentaneamente, a queda na popularidade do presidente.


O principal evento político da semana, contudo, foi a carta enviada pelo presidente Trump a Lula, impondo uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. Trata-se de um gesto eminentemente político, já que não há justificativa comercial ou econômica plausível: o Brasil é um dos poucos países com os quais os EUA mantêm superávit comercial — superávit esse que se estende há mais de 15 anos e que, apenas na última década, somou US$ 91 bilhões em favor dos americanos. Se considerarmos também a balança de serviços, o ganho norte-americano atinge US$ 256 bilhões. Os Estados Unidos respondem por 10% das exportações brasileiras e por 15% das nossas importações.


Na carta, Trump alega a perseguição política a Jair Bolsonaro e interferência do Judiciário brasileiro em empresas americanas como justificativas para a medida. No entanto, o verdadeiro estopim pode ter sido outro. Lula vem provocando o presidente americano ao rebater suas declarações e liderar as críticas do BRICS à hegemonia dos Estados Unidos — em especial ao papel do dólar como principal moeda de troca global. O discurso do presidente brasileiro, que tem seus méritos, agrada a Rússia e a China, mas nenhuma dessas potências parece disposta a ecoá-lo publicamente. Tanto Vladimir Putin quanto Xi Jinping sequer compareceram ao encontro dos BRICS no Rio de Janeiro, mantendo uma postura de distanciamento. Alguns analistas afirmam que a tarifa de 50% e a carta de Trump a Lula são, mais do que uma defesa de Bolsonaro, um recado claro para que o presidente brasileiro modere o tom.


Desde que a carta do presidente Trump, que promete golpear duramente as exportações nacionais, Lula viu sua popularidade crescer. Esse fenômeno pode ser explicado por um padrão histórico recorrente: quando uma nação é confrontada por uma potência estrangeira, seu líder tende a ganhar apoio popular por ser percebido como líder da resistência e defensor da soberania nacional. Nesse contexto, Lula passou a encarnar a resposta do Brasil à ofensiva econômica americana, o que fortaleceu sua imagem diante da opinião pública.


Brasil – Indicadores econômicos

O IGP-DI de junho registrou nova deflação, desta vez de -1,80%, após o recuo de -0,85% em maio. A produção de veículos teve seu segundo mês consecutivo de queda, com retração de 6,5% em junho, após cair 5,9% no mês anterior. As vendas no varejo também apresentaram resultados negativos, recuando 0,2% em maio, após uma queda de 0,3% em abril. Esses dados reforçam os efeitos do aperto monetário promovido pelo Banco Central, e o mercado agora aguarda como esses indicadores se refletirão no IPCA.


Em relação à inflação oficial, o IPCA de junho ficou em 0,24%, ligeiramente acima da expectativa de 0,20%, mas abaixo da taxa registrada em maio, de 0,26%. O acumulado em 12 meses alcançou 5,35%. Como está acima do teto da meta (4,50%) por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, será obrigado a enviar uma carta ao Ministro da Fazenda explicando os motivos do descumprimento da meta de inflação.


EUA

Trump não recuou das tarifas, aumentando a incerteza nos mercados. No entanto, os investidores parecem já ter se acostumado à sua tática de iniciar negociações exigindo um preço alto, para depois buscar concessões. O presidente americano impôs novas tarifas aos países que ainda não firmaram acordos comerciais com os Estados Unidos.


A Casa Branca anunciou tarifas de 25% sobre produtos importados do Japão e da Coreia do Sul, que juntos respondem por 8,5% do total das importações americanas. Além da União Europeia, o Canadá também deve ser alvo de novas tarifas, estimadas em 35%, sinalizando uma intensificação da retórica protecionista por parte do governo americano.


Trump também anunciou uma tarifa de 50% sobre o cobre — um metal essencial para a indústria americana, cuja produção doméstica atende apenas à metade da demanda. Apesar da gravidade das medidas, elas ainda não entraram em vigor e estão previstas para começar em 1º de agosto, o que abre espaço para novas negociações até lá. O governo americano insiste em ignorar os diversos riscos inerentes a essas decisões — desde o aumento da inflação, passando pelo risco de desabastecimento, até os danos à sua reputação internacional.

Fechamento da semana - números coletados às 15:00h desta sexta-feira
Fechamento da semana - números coletados às 15:00h desta sexta-feira

A semana foi difícil para os ativos brasileiros. O Ibovespa recuou 3,9%, embora ainda acumule alta de 12,8% no ano. O dólar, que havia recuado para a casa dos R$ 5,40, subiu 1,5% e encerrou a semana cotado a R$ 5,56. Apesar dos indicadores de atividade e inflação sinalizarem desaceleração, o DI para janeiro de 2027 subiu 18 pontos-base, encerrando a semana com taxa de 14,36%.


Nos Estados Unidos, o S&P 500 fechou com leve queda, sustentado pelos fortes ganhos das empresas ligadas à inteligência artificial. Destaque para a Nvidia, que se tornou a primeira empresa da história a ultrapassar US$ 4 trilhões em valor de mercado. O petróleo registrou alta de 2,6%, impulsionado pelas sanções impostas pelos EUA ao petróleo russo e a empresas envolvidas na comercialização do petróleo iraniano. Além disso, a OPEP estuda suspender o aumento da produção após o próximo mês.


Até a próxima semana!

Posts recentes

Ver tudo
A semana em 5 minutos

“Vale a pena repetir: vencedores constroem pontes. Perdedores, paredes.” - Frank Underwood (House of Cards) Nos Estados Unidos, a...

 
 
 
A semana em 5 minutos

“Evitar um problema é a melhor maneira de resolvê-lo” - Italo Eduardo Após algumas semanas em que o mercado brasileiro vinha apresentando...

 
 
 
A semana em 5 minutos

“A grande dificuldade da política econômica não é econômica, mas política.” - Milton Friedman Na ONU, a interação, e a possibilidade de...

 
 
 

Comentários


bottom of page