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A semana em 5 minutos

  • joaobourdon8
  • 1 de ago.
  • 6 min de leitura
“Não são as circunstâncias que causam resultados – são as pessoas” - - Jim Collins

A semana começou com os mercados internacionais comemorando o acordo tarifário entre os Estados Unidos e a União Europeia, que vinha se arrastando há algum tempo sem uma solução definitiva. Ficou estabelecida uma tarifa de 15% sobre a maioria dos produtos europeus e, em contrapartida, o bloco se comprometeu a comprar armamentos e energia dos EUA, além de investir em infraestrutura no país. Inicialmente, o acordo foi visto como positivo, diante da ameaça anterior de tarifas de 30%.


Ao longo da semana, no entanto, Trump voltou a usar a guerra tarifária como instrumento de pressão e aumentou as tarifas sobre diversos países, provocando quedas nos mercados ao redor do mundo. O Brasil foi alvo da maior tarifa imposta, mas o amplo número de exceções concedidas aos nossos produtos gerou alívio significativo no mercado nacional.


Brasil – Política

O herói só é herói se houver um vilão a combater , e Lula encontrou seu antagonista na figura de Trump. A popularidade do presidente vem crescendo, e ele continua a discursar contra o presidente norte-americano, assumindo o papel de defensor da soberania nacional. Outro antagonista é Eduardo Bolsonaro, amplamente visto como o responsável pela imposição da tarifa, traindo os interesses do país.


Além disso, Eduardo tem contribuído para a fragmentação da direita, que se divide entre os defensores incondicionais de seu pai e a ala mais moderada. Alheio a esse contexto, ele acaba prestando um serviço involuntário ao PT, ao salvar a popularidade de Lula e deslocar novamente o pêndulo político para a esquerda.


A tarifa de 50% imposta por Trump foi adiada por sete dias e contará com uma série de isenções, abrangendo desde commodities como suco de laranja, celulose, petróleo e minério de ferro até aeronaves da Embraer. Metade dos produtos exportados — 694 itens — foi poupada do tarifaço.


A decisão de isentar diversos produtos só não foi interpretada como um gesto diplomático porque o comunicado oficial voltou a mencionar a suposta perseguição política a Bolsonaro. Além disso, Trump sancionou Alexandre de Moraes sob a Lei Magnitsky. O fato de apenas Moraes ter sido alvo da sanção , e não outros ministros do STF , foi interpretado como um sinal “positivo”, por atingir exclusivamente o magistrado que tem avançado sobre o ambiente digital, com o objetivo de moderar o conteúdo e regular o funcionamento dos algoritmos. Essa postura, na visão de Trump, configura censura e interfere diretamente nas operações de empresas americanas.


Brasil – Indicadores econômicos

O Copom manteve a Selic em 15%, conforme amplamente esperado, e reforçou a necessidade de prudência diante do cenário externo conturbado e do quadro fiscal frágil, que exige maior prêmio de risco por parte dos investidores e tende a comprometer a confiança no real. Segundo analistas, caso o Federal Reserve promova um corte de juros em outubro, o Banco Central poderá ter espaço para iniciar a redução da taxa básica por aqui.


Em junho, a dívida bruta do Brasil alcançou 76,6% do PIB, somando R$ 9,4 trilhões , um aumento de 0,5 ponto percentual em relação a maio. A alta de 0,7% nas despesas com o serviço da dívida, pressionada pela própria Selic, foi a principal responsável por esse avanço.


A taxa de desemprego recuou para 5,8% em junho, impulsionada pela criação de novos postos de trabalho e pelo ganho real na renda dos trabalhadores. O mercado de trabalho brasileiro tem se mostrado resiliente, mesmo diante da recente desaceleração econômica.


Nesta semana, foi divulgada a produção industrial de junho, que recuou 1,3%, desempenho inferior à expectativa de retração de 0,6%.


EUA

Gigantes da tecnologia, como Apple, Microsoft e Meta, divulgaram seus resultados nesta semana e surpreenderam positivamente, demonstrando resiliência mesmo em um ambiente de investimentos intensivos. Microsoft e Meta apresentaram números acima das expectativas dos analistas, apesar dos pesados aportes em inteligência artificial , tecnologia que deve sustentar o crescimento dos lucros no futuro. A exceção foi a Amazon, que decepcionou ao divulgar um guidance mais fraco para o restante do ano, atribuído à incerteza gerada pela atual guerra comercial.


O Federal Reserve manteve a taxa de juros inalterada em 4,50%, conforme amplamente antecipado pelo mercado, e reafirmou, em seu comunicado pósdecisão, a necessidade de cautela diante das persistentes incertezas relacionadas à inflação e à política tarifária vigente. O início do ciclo de cortes, portanto, deve demorar um pouco mais. As decisões costumam ser unânimes, mas, pela primeira vez em 35 anos, dois membros , Bowman e Waller, indicados por Trump , votaram contra a decisão majoritária, sugerindo um corte de 0,25 ponto percentual, com base em sinais crescentes de desaceleração econômica.


Nesta quinta-feira, Trump formalizou uma nova rodada de tarifas, penalizando a maioria dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, com a imposição de um novo piso de 15% , o maior patamar em 90 anos. O avanço do protecionismo comercial, que historicamente tem se mostrado ineficaz para o fortalecimento da indústria protegida, vem substituindo o liberalismo econômico e o modelo de capitalismo de mercado que tornaram a economia americana a mais dinâmica do mundo.


Entre as medidas anunciadas, foi imposta uma tarifa de 25% sobre produtos indianos, acompanhada de críticas à compra de petróleo russo pelo país, que, segundo Trump, estaria contribuindo para o financiamento da guerra na Ucrânia.


Por fim, o payroll , principal indicador do mercado de trabalho dos EUA , revelou a criação de vagas em número inferior ao esperado, alimentando os receios de que a desaceleração econômica já esteja em curso e possa se agravar diante da instabilidade comercial persistente, que vem travando decisões de investimento e contratação.


China

Os Índices de Gerentes de Compras (PMIs), importantes termômetros da atividade econômica, mostraram retração em julho nas principais economias, sinalizando perda de fôlego no setor industrial global. O dado acendeu um sinal de alerta entre os investidores, que já demonstravam cautela diante da incerteza quanto à nova política tarifária entre os Estados Unidos e a China. A falta de clareza sobre os rumos da guerra comercial tem impactado decisões de investimento e fortalecido a percepção de risco, especialmente em mercados emergentes.


Apesar das tensões geopolíticas e do endurecimento das posturas comerciais, há um fator estrutural que pode favorecer a construção de um acordo: a forte interdependência entre as duas economias. Os Estados Unidos dependem das exportações de terras raras da China , insumos essenciais para a indústria de tecnologia, energia e defesa , enquanto os chineses são altamente dependentes dos semicondutores americanos, fundamentais para sustentar sua própria produção tecnológica. Essa dependência atua como um freio natural à escalada do conflito.


Europa

O acordo entre a União Europeia e os Estados Unidos foi inicialmente recebido com entusiasmo no início da semana, gerando um breve alívio nos mercados. No entanto, à medida que os detalhes vieram à tona, as incertezas voltaram a preocupar os investidores e as autoridades europeias. O que parecia uma trégua comercial revelou-se, para muitos analistas, um arranjo assimétrico que favorece os interesses americanos.


As tarifas sobre produtos europeus, que atualmente estão em 5%, irão triplicar, chegando a 15%, enquanto os produtos americanos passarão a entrar na União Europeia com uma tarifa simbólica de apenas 1%. Essa ausência de reciprocidade gerou críticas crescentes dentro do bloco, especialmente entre os setores industriais mais expostos à concorrência internacional.


Além disso, o acordo impôs compromissos expressivos de investimento por parte da Europa nos Estados Unidos, incluindo aportes em infraestrutura, energia e defesa. No entanto, esses compromissos não provocaram tanto desconforto político, principalmente porque carecem de mecanismos concretos de enforcement. São, na prática, promessas de natureza política, sujeitas a mudanças de governo.

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Apesar da leve alta da Bolsa e da pequena queda do dólar e dos juros futuros (DI), a semana não foi considerada positiva. O tarifaço anunciado por Trump veio consideravelmente mais brando do que o esperado, o que contribuiu para a valorização dos ativos brasileiros. No entanto, a crescente preocupação com o risco fiscal, aliada a sinais de reversão na impopularidade de Lula, traçam um horizonte pouco favorável para o mercado doméstico.


No cenário internacional, os ativos refletiram a volta do uso das tarifas comerciais como instrumento de pressão por parte de Trump , uma estratégia que deteriora significativamente o ambiente de planejamento e investimentos globais, sobretudo em setores com cadeias produtivas mais expostas ao comércio exterior.


O grande destaque da semana foi a disparada do VIX, índice que mede a volatilidade implícita nas opções sobre o S&P 500 , conhecido como o "índice do medo" (Fear Index). O indicador saltou acima dos 20 pontos nesta sexta-feira, refletindo o aumento das incertezas no mercado global e a elevação da aversão ao risco por parte dos investidores.


Até a próxima semana!

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