A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 15 de ago.
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“O maior cuidado de um governo deveria ser o de habituar, pouco a pouco, o povo a dele não precisar” - Alexis de Tocqueville
A semana começou com os mercados animados pela divulgação de índices de inflação ao consumidor abaixo do esperado, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o que elevou as apostas em cortes de juros em ambos os países. Com isso, as bolsas engataram um movimento de alta, enquanto o dólar e os juros futuros recuaram.
No cenário doméstico, o destaque político foi a apresentação do Plano Brasil Soberano, lançado por Lula como resposta ao tarifaço de Trump. A proposta, porém, não agradou aos investidores e derrubou os ativos de risco brasileiros, pois tende a aprofundar ainda mais o desequilíbrio fiscal.
Brasil – Política
O governo federal apresentou um conjunto de medidas para reduzir o impacto das tarifas de 50% impostas sobre produtos exportados aos Estados Unidos, batizando a iniciativa de “Brasil Soberano” — expressão repetida diariamente pelo presidente, acompanhada de críticas direcionadas a Trump.
O plano contempla diversas ações, mas o destaque são os R$ 30 bilhões em linhas de crédito subsidiadas, lastreadas pelo Fundo Garantidor de Exportações. A decisão de excluir R$ 9,5 bilhões da meta fiscal amplia ainda mais o rol de exceções do Arcabouço, com o governo recorrendo novamente a medidas parafiscais. Como contrapartida, as empresas beneficiadas deverão manter os empregos de seus funcionários.
Brasil – Indicadores econômicos
O IPCA de julho surpreendeu positivamente, registrando alta de 0,26% (expectativa: 0,37%) e acumulando inflação de 5,23% nos últimos 12 meses. O resultado foi bem recebido pelo mercado e trouxe alívio ao Banco Central, reforçando a possibilidade de início do ciclo de cortes de juros. Os contratos de juros futuros para janeiro de 2027 recuaram para abaixo de 14%.
O setor de serviços apresentou desempenho acima do esperado, com crescimento de 0,3% em junho, afastando o risco de revisão negativa do PIB do segundo trimestre. Ainda assim, o cenário-base segue sendo de desaceleração da economia brasileira, movimento que deve contribuir para o recuo da inflação e, consequentemente, para a redução da Selic.
EUA
A inflação ao consumidor (CPI) avançou 0,2% em julho, fazendo o acumulado em 12 meses recuar de 2,8% para 2,7%. O resultado foi amplamente comemorado pelo mercado, mesmo com o núcleo do índice, que exclui itens mais voláteis, registrando alta de 0,3% no mês, elevando o acumulado anual de 3,0% para 3,1%.
Com a inflação mais controlada e os dados do mercado de trabalho apontando arrefecimento, o Federal Reserve poderá iniciar o corte de juros já na reunião de setembro. A interpretação predominante é que a autoridade monetária deve agir preventivamente para evitar que uma recessão se instale de fato na economia. Segundo o MarketWatch, após a divulgação do CPI, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião saltou para 100%.
Ontem, no entanto, o PPI (Índice de Preços ao Produtor) esfriou parcialmente o entusiasmo dos investidores. Apesar de medir a inflação apenas sobre a produção doméstica, o indicador sofre influência dos preços de insumos importados — e foi exatamente esse fator que pressionou o resultado. O PPI de julho subiu 0,9%, frente a uma expectativa de 0,2%, e seu núcleo também registrou 0,9%, contra estimativa de 0,2%. Ainda assim, segundo o MarketWatch, a probabilidade de corte em setembro pouco mudou, recuando para 95%.
A bolsa americana tem mostrado notável resiliência diante dos riscos comerciais e fiscais da gestão Trump, mas analistas ressaltam que essa alta vem sendo sustentada principalmente pelas gigantes de tecnologia, que surfam a onda da inteligência artificial. Já empresas de médio e pequeno porte de outros setores sofrem com a incerteza gerada pelo tarifaço de Trump.
Em um gesto inédito, o presidente americano considera a possibilidade de o governo adquirir participação na Intel, uma das maiores fabricantes de chips do mundo, com o objetivo de fortalecer a indústria de semicondutores e ampliar a produção doméstica.
Além dos riscos comerciais e fiscais, a gestão Trump tem se mostrado fortemente intervencionista e estatizante, postura alinhada a modelos econômicos fracassados adotados na América Latina nas últimas cinco décadas, em contraste com a economia de mercado dinâmica e liberal que marcou os Estados Unidos desde o fim da segunda guerra mundial.
China
A China tem alternado a divulgação de indicadores econômicos que ora revelam resiliência, ora apontam fragilidade. Na semana passada, o crescimento das exportações e importações animou os investidores. Já nesta semana, os dados de produção industrial e vendas no varejo vieram abaixo das expectativas, reacendendo as dúvidas sobre a capacidade do país de atravessar o cenário de incerteza comercial com impactos limitados.

Apesar de a inflação ao consumidor americano ter elevado as apostas em um corte de juros na próxima reunião do FED, em setembro, o Treasury de 10 anos parece discordar, já que não apresentou recuo em sua taxa nesta semana. O ouro, que costuma se beneficiar fortemente de cortes nos juros, registrou, na verdade, queda de 1,6% na semana, mas ainda acumula alta de 27% no ano.
A Agência Internacional de Energia (AIE) elevou sua previsão de oferta de petróleo para o próximo ano, contribuindo para manter o preço do barril abaixo de US$ 70. Já a crise humanitária na Faixa de Gaza, que vem ganhando espaço na imprensa, não parece afetar a determinação de Netanyahu em seguir com seu plano de controle total da região. O quadro, no entanto, pode embaralhar o cenário geopolítico no Oriente Médio caso países árabes decidam se envolver — algo que, por ora, não vem acontecendo.
O VIX, indicador que mede a volatilidade implícita das opções do S&P 500, também conhecido como “índice do medo”, apresentou queda pela segunda semana consecutiva, refletindo a expectativa de um mercado mais tranquilo nos próximos dias...
Na próxima semana, não estão previstos indicadores econômicos relevantes, e o foco dos investidores deverá se voltar ao campo político, tanto no Brasil quanto no exterior. Hoje, Trump se reúne com Putin, no Alasca, para tentar firmar um acordo de paz e encerrar a guerra na Ucrânia.
Até a próxima semana!
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