A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 12 de set.
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“A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros.” - Henry de Montherlant
A semana foi marcada pela turbulência no cenário externo, diante da possibilidade de intensificação do conflito na Ucrânia e do atrito diplomático entre Israel e países do Golfo Pérsico.
No Brasil, a condenação de Bolsonaro abre espaço para que a direita concentre esforços em torno de uma nova candidatura viável para as eleições de 2026.
Brasil – Política
A condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, além de confirmá-lo inelegível por oito anos, leva a oposição a oficializar outro nome para a disputa de 2026. Tarcísio desponta como favorito e, neste 7 de setembro, em um evento na Avenida Paulista, fez um discurso considerado radical, alinhado ao bolsonarismo, ao criticar o STF e outras instituições brasileiras, postura que incomodou parte da direita moderada. Segundo especialistas, a estratégia deve ser essa: capturar inicialmente os votos bolsonaristas para, em seguida, adotar um tom mais ponderado e conciliador, a fim de conquistar os moderados, segmento essencial para garantir a vitória.
Uma pesquisa do Ipsos-Ipec mostrou melhora na popularidade de Lula: 38% dos eleitores avaliam seu governo como ruim ou péssimo (ante 43% em junho), enquanto 30% o consideram ótimo ou bom (eram 25% em junho). O mercado aposta em uma mudança política em 2027, capaz de promover reformas estruturais que corrijam a trajetória da dívida pública, algo para o qual Lula não demonstra disposição. Nesse contexto, os ativos de risco brasileiros tendem a reagir positivamente a pesquisas que sinalizem alternância de poder no pleito de 2026.
Brasil – Indicadores econômicos
O IPCA de agosto registrou a primeira deflação em um ano, em linha com as expectativas, mas ligeiramente acima do previsto: -0,11%, ante estimativa de - 0,14%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses alcançou 5,13%. O recuo foi puxado pela queda nos preços dos alimentos (-0,46%), que beneficia especialmente a população mais vulnerável, além de uma redução pontual nas tarifas de energia elétrica (-4,2%), em razão do “bônus de Itaipu”.
As vendas no varejo de julho recuaram 0,3%, conforme esperado, após a queda de 0,1% em junho. Os números confirmam o arrefecimento da atividade econômica e reforçam a expectativa de que o Banco Central inicie o ciclo de cortes de juros ainda este ano.
EUA
O PPI (índice de preços ao produtor) surpreendeu os investidores ao registrar deflação de 0,1%, contrariando a expectativa de alta de 0,3% após o avanço de 0,7% em julho. O resultado foi bem recebido por sinalizar uma queda inesperada nos custos de produção, com potencial de aliviar a inflação ao consumidor nos próximos meses.
Animados com os dados do PPI, os investidores aguardavam ansiosamente a divulgação do CPI no dia seguinte, de olho na confirmação de um corte de 0,25 p.p. nos juros pelo Fed. Entretanto, a inflação ao consumidor veio acima do esperado: 0,4% frente à projeção de 0,3%, e o dobro da alta de 0,2% registrada no mês anterior. No acumulado em 12 meses, o CPI subiu de 2,7% para 2,9%. O dado trouxe desconforto, principalmente pelo avanço dos preços dos bens duráveis, que vinham de mais de dois anos em deflação. Os alimentos também pressionaram, com destaque para carne bovina e café, ambos produtos exportados pelo Brasil, que registraram a maior alta em mais de três anos, pesando no bolso do consumidor americano.
Apesar disso, o indicador não arrefeceu as expectativas de corte de juros, sobretudo após a divulgação dos pedidos semanais de auxílio-desemprego, que subiram 12% em relação à semana anterior, alcançando 263 mil solicitações — a maior alta em quatro anos. Outro sinal de enfraquecimento do mercado de trabalho veio da revisão dos dados de criação de vagas entre março de 2024 e março de 2025, corrigidos de 1,8 milhão para 911 mil postos. O ajuste do BLS (Bureau of Labor Statistics) expôs uma desaceleração não captada pelos modelos, reforçando a percepção de que o Fed precisará agir para cumprir seu mandato de manutenção do pleno emprego.
O mercado agora aposta em três cortes de 25 pontos-base até o fim do ano.
Oriente Médio
Israel realizou um ataque aéreo em Doha, capital do Catar, que resultou na morte de cinco integrantes da alta cúpula do Hamas. O Catar, aliado estratégico dos Estados Unidos, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes, reagiu com preocupação, e o episódio acendeu um alerta na região pelo risco de desestabilizar as negociações de paz que Israel mantém com os países do Golfo.
Europa
Drones russos invadiram o espaço aéreo da Polônia, levando caças poloneses, em conjunto com aliados da Otan, a derrubarem os 19 equipamentos não tripulados. O episódio intensificou os temores de uma escalada do conflito para além das fronteiras da Ucrânia. Em resposta, a Otan acionou o Artigo 4º do Tratado e convocou uma reunião emergencial. Países europeus já começaram a se mobilizar, com destaque para a Alemanha, que anunciou a ampliação do apoio militar e financeiro à Ucrânia, a preparação de novas sanções contra Moscou e o reforço do policiamento aéreo sobre a Polônia.

O Ibovespa atingiu uma nova máxima histórica nominal, aos 144 mil
pontos, mas a pesquisa de opinião indicando fortalecimento nos números de Lula
parece ter arrefecido parcialmente o otimismo dos investidores. O dólar segue
enfraquecido no cenário global e, no Brasil, recuou 1,3%, encerrando a semana
cotado a R$ 5,35. O contrato futuro de juros (DI para 2027) subiu 10 pontos-base
na semana, voltando a ser negociado acima de 14%, mesmo diante do índice
negativo de inflação.
Para a próxima semana, o mercado americano aposta em um corte de 0,25
p.p. nos juros, que reduziria a taxa dos Fed Funds de 4,50% para 4,25%. A atenção,
entretanto, estará voltada para o comunicado pós-decisão e para o placar de
votação, em busca de sinais sobre os próximos passos do Federal Reserve.
Até a próxima semana!
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