A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- 26 de set.
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“A grande dificuldade da política econômica não é econômica, mas política.” - Milton Friedman
Na ONU, a interação, e a possibilidade de uma eventual aproximação entre o presidente americano e Lula animou o mercado e impulsionou os ativos de risco brasileiros.
A estratégia articulada por Eduardo Bolsonaro teve como efeito colateral reposicionar Lula no cenário político, retirando-o da condição de baixa popularidade em que se encontrava. Uma pesquisa do IPESP mostrou que a desaprovação do governo recuou de 51% para 48%. Outros levantamentos indicam Lula como favorito para vencer as eleições de 2026.
No Brasil, o 4º Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas apontou um novo aumento nos bloqueios orçamentários, provocado pelo crescimento das despesas obrigatórias. O resultado evidencia a dificuldade do novo arcabouço fiscal em conter a expansão dos gastos.
Brasil – Política
Donald Trump elogiou Lula na ONU e o convidou para um encontro, gesto que animou o mercado local. Lula era o único chefe de governo do G20 que ainda não havia interagido com Trump desde sua posse. Uma possível conciliação reduz as chances de sanções generalizadas contra a economia brasileira. Além disso, a aproximação entre os líderes e o consequente alívio das tensões tendem a enfraquecer a ala mais radical da oposição, hoje liderada por Eduardo Bolsonaro, que enfrenta alta rejeição do eleitorado e pode inviabilizar o surgimento de uma candidatura moderada de centro-direita, capaz de sustentar a agenda reformista necessária para corrigir a insustentável trajetória das contas públicas.
As reviravoltas na disputa presidencial já começaram: o portal Metrópoles informou que Jair Bolsonaro declarou apoio à candidatura de Tarcísio de Freitas em 2026, informação confirmada pelo União Brasil e pelo PP. A estratégia do governador paulista seria herdar os votos do bolsonarismo, mas adotar um discurso mais moderado e conciliador, a fim de evitar a rejeição associada ao expresidente. No entanto, segundo o Poder360, Tarcísio deve se reunir com Bolsonaro na segunda-feira para comunicar que não será candidato à Presidência e disputará a reeleição ao governo de São Paulo.
O Tribunal de Contas da União reiterou que perseguir o limite inferior da meta de resultado primário, estratégia adotada pelo governo desde o início, em vez do centro da meta, constitui irregularidade e viola a legislação do Arcabouço Fiscal.
Na Câmara dos Deputados, foi aprovado um projeto que retira as despesas temporárias de saúde e educação do limite do arcabouço. Já o Senado aprovou emenda semelhante na MP Brasil Soberano, retirando quase R$ 10 bilhões de apoio aos empresários.
Brasil – Indicadores econômicos
O IPCA-15, prévia da inflação oficial, acelerou de uma deflação de 0,14% em agosto para uma alta de 0,48% em setembro. O resultado, no entanto, foi bem recebido pelo mercado por ter ficado abaixo das estimativas (0,51%). O grupo Alimentação registrou deflação pelo quarto mês consecutivo, enquanto os Serviços apresentaram desaceleração e os núcleos seguiram em queda — um sinal positivo para o cenário inflacionário.
A Ata do Copom trouxe um tom duro e conservador, sem indicar o início dos cortes da Selic, atualmente em 15%. De acordo com o comitê, o processo de reancoragem das expectativas de inflação “exige perseverança, firmeza e serenidade”.
EUA
Os principais indicadores econômicos divulgados apontam para uma economia resiliente, com crescimento consistente, mesmo diante das incertezas tarifárias. Os PMIs (índices de gerentes de compras) da indústria e de serviços registraram leve recuo em setembro em relação a agosto, mas permaneceram acima de 52 pontos, em território expansionista.
Os pedidos de bens duráveis da indústria surpreenderam positivamente, revertendo a queda de 2,7% em julho para uma alta de 2,9% em agosto, muito acima da expectativa de nova retração de 0,3%. Já os pedidos de auxíliodesemprego somaram 218 mil, abaixo da semana anterior (232 mil) e menores que as projeções (233 mil). Além disso, o crescimento do PIB do segundo trimestre foi revisado de -0,5% para +3,8%, outra surpresa que reforça a resiliência da atividade americana.
O PCE (índice de gastos pessoais), principal medida de inflação acompanhada pelo Fed, mostrou estabilidade em agosto: 0,2% no mês e 2,9% em 12 meses, em linha com as expectativas. Os dados da semana revelam a força da economia e colocam em dúvida a aposta dos investidores em um novo corte de juros em outubro.

Nos EUA, os gigantes de tecnologia continuam se beneficiando da onda de inteligência artificial, impulsionando a valorização dos índices S&P 500 e Nasdaq.
Já empresas de menor porte e de outros setores enfrentam um cenário mais desafiador. Em pesquisa conduzida pela Universidade de Yale, 71% dos CEOs relataram prejuízos diretos com a política tarifária de Donald Trump.
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou relatório projetando desaceleração no crescimento dos EUA: de 2,8% em 2024 para 1,8% em 2025 e 1,5% em 2026. Para o restante do mundo, a estimativa é de expansão do PIB de 3,2% neste ano, caindo para 2,9% em 2026.
Em discurso, Jerome Powell destacou que a conjuntura econômica americana segue desafiadora, citando o “risco bilateral” de inflação ainda elevada combinada com o enfraquecimento do mercado de trabalho. O presidente do Fed reforçou que o corte de 0,25 ponto percentual realizado na semana passada não deve ser interpretado como o início de um ciclo agressivo de flexibilização. Segundo ele, os próximos passos da política monetária dependerão do comportamento dos indicadores econômicos nos próximos meses.
Na próxima semana, o mercado acompanhará a divulgação do CAGED, o balanço orçamentário do governo, a produção industrial e, nos EUA, o payroll de setembro.
Até a próxima semana!
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