A semana em 5 minutos
- joaobourdon8
- há 13 minutos
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“Os homens hão de aprender que a política não é a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno.” - Henry David Thoreau
A semana foi mais curta por causa do feriado de Ação de Graças nos foi Estados Unidos nesta quinta e sexta-feira, o que reduziu a liquidez dos mercados ao redor do mundo. Ainda assim, o período positivo para os ativos de risco, impulsionados também pelas declarações recentes de dirigentes do Fed. No Brasil, o cenário político sinaliza um profundo racha entre o Legislativo e o Executivo, que pode comprometer a governabilidade a apenas dez meses das eleições presidenciais.
Brasil – Política
A última semana de novembro em Brasília expôs um colapso na articulação política do Planalto e transformou a relação entre Executivo e Legislativo em uma ferida aberta a apenas dez meses das eleições presidenciais. O gatilho para a crise foi a decisão do presidente Lula de indicar Jorge Messias ao STF sem comunicar previamente a Davi Alcolumbre, uma quebra de protocolo que gerou uma reação imediata e simbólica: a ausência de Alcolumbre e de Hugo Motta na cerimônia que anunciou a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais. O boicote foi apenas o início do racha entre os poderes.
Hugo Motta, presidente da Câmara, rompeu com o líder do PT, Lindbergh Farias, enquanto Davi Alcolumbre rompeu com o líder do governo, Jaques Wagner. A partir daí, iniciou-se uma escalada de retaliações no Legislativo, que se materializou na derrubada dos 52 vetos de Lula à polêmica PEC do Desmatamento e na aprovação, em ritmo acelerado, da aposentadoria especial para agentes de saúde. A medida é vista como uma bomba fiscal que impõe um impacto bilionário às contas públicas e reforça a disposição do Congresso de comprometer a governabilidade em resposta ao isolamento político do Executivo. Diante desse cenário, o governo já sinaliza que poderá recorrer ao STF para tentar reverter as decisões recentes da Câmara e do Senado, o que reforça seu isolamento.
Brasil – Indicadores econômicos
A prévia da inflação oficial de novembro, o IPCA-15, registrou alta de 0,20%, acima da expectativa de 0,18%, mas foi bem recebida pelo mercado e reforçou as projeções de corte da Selic em janeiro, apesar do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, manter um discurso firme sobre os riscos inflacionários. O alívio nos preços de alimentos e de bens industriais foi um excelente sinal. Além disso, os núcleos permaneceram comportados, o que sugere uma dinâmica favorável ao início do ciclo de redução dos juros. Caso o IPCA cheio de novembro repita a prévia de 0,20%, a inflação acumulada em doze meses chegará a 4,48% e, pela primeira vez em mais de um ano, voltará a convergir para dentro do teto da meta, que é de 4,50%. O principal foco de pressão nesta prévia foram as passagens aéreas, que subiram 11,8% mesmo com a forte queda do dólar e do barril de petróleo em 2025.
O Caged de outubro mostrou a criação de 85 mil vagas formais, número abaixo da expectativa de 105 mil e bem inferior ao resultado de setembro, quando foram geradas 213 mil vagas. Este foi o pior desempenho para o mês de outubro desde 2020. Apesar da baixa geração líquida de empregos, há um ponto positivo: os dados reforçam a tese de que o Banco Central poderá reduzir os juros em janeiro de 2026, já que o mercado de trabalho segue como um dos principais vetores de pressão sobre a inflação.
Os dados fiscais de outubro revelaram um quadro preocupante e novamente insustentável. As despesas cresceram 9,2% no segundo semestre, mais que o dobro da expansão das receitas. No acumulado de 2025, o gasto real, acima da inflação, avança 3,3%, superando o limite de 2,5% estabelecido pelo próprio arcabouço fiscal. A dívida bruta sobe 7 pontos percentuais, de 71,7% para 78,6% do PIB. Somado a esse descontrole, estimativas apontam que, entre 2023 e 2026, o governo federal, por meio de manobras políticas em conjunto com o Congresso, terá excluído artificialmente cerca de 390 bilhões de reais da meta fiscal.
EUA
Na sexta-feira passada, um simples comentário do presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, de que há motivos para um corte de juros em dezembro, foi suficiente para evitar uma queda maior das empresas de tecnologia. No início desta semana, Christopher Waller manifestou apoio a uma redução de 0,25 ponto percentual na reunião de 10 de dezembro. Após sua declaração, as bolsas americanas dispararam, retomando um movimento de alta. Segundo alguns analistas, Waller teria interesse em disputar a presidência do Federal Reserve, cuja nomeação ocorrerá no início de 2026, e seu posicionamento teria sido uma forma de atrair a atenção de Donald Trump.
O Livro Bege do Federal Reserve foi divulgado nesta semana e apresentou um cenário de estabilidade, porém com sinais de alerta. Varejistas e fabricantes estão enfrentando aumentos nos preços de produtos importados em razão das tarifas impostas por Trump, e boa parte da população tem reduzido gastos para se ajustar a esse ambiente.
Apesar da inflação permanecer acima da meta há bastante tempo, o Federal Reserve já indicou preocupação crescente com o mercado de trabalho que, mesmo após o payroll positivo da semana passada, mostra sinais de enfraquecimento. Após as declarações dos dirigentes nesta semana, o mercado passou a precificar em 80% a chance de um corte de 0,25 ponto percentual no Fed Funds Rate no próximo dia 10.

A semana foi positiva para os ativos de risco brasileiros, com a Bovespa acumulando alta de 32% no ano, enquanto o IFIX avança 17%. O dólar negocia ao redor de 5,35 reais e registra queda de 13% no acumulado de 2025. O DI janeiro 2027, que iniciou o ano com taxa de 15,94%, encerra a última semana de novembro em 13,59%.
Nas últimas semanas, o comportamento da Bolsa brasileira e dos títulos do Tesouro Nacional, que se beneficiam do fechamento da curva de juros, ou seja, da perspectiva de queda da Selic, indica que o mercado parece apostar em um cenário bastante favorável aos ativos de risco: um ciclo de afrouxamento monetário tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
As declarações dos dirigentes do Federal Reserve impulsionaram os ativos americanos, com o S&P 500 avançando 3,5% na semana e 16% no ano. O destaque, porém, ficou para o ouro, tradicionalmente usado como proteção contra incertezas, inflação, déficits persistentes e conflitos. O metal subiu 3% na semana e acumula alta de 60% em 2025, registrando seu melhor desempenho desde a década de 1970.
Até a próxima semana!

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