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A semana em 5 minutos

  • joaobourdon8
  • 11 de abr.
  • 5 min de leitura

“Tarifas contra Bangladesh e Vietnam são como um grande investidor brigar com a moça da limpeza pelo direito dele lavar o banheiro” - Trevor Scott - Tidefall Capital

EUA

Iniciamos a semana com os mercados em forte queda, impactados pela escalada da guerra comercial promovida por Donald Trump. O presidente norte-americano, demonstrando convicção ideológica em sua política, manteve sua postura inflexível durante o fim de semana. Como resposta, as principais economias parceiras iniciaram retaliações. A China aumentou tarifas sobre produtos americanos, o que levou os Estados Unidos a elevarem suas próprias alíquotas para 104%. Em contrapartida, a China respondeu com uma nova alta, atingindo 84%. A União Europeia e o Canadá também reagiram, impondo tarifas de 25% sobre produtos americanos.

Após o S&P 500 perder mais de 10 trilhões de dólares em valor de mercado ao entrar oficialmente em bear market — com uma queda acumulada de 21% desde seu pico —, Trump decidiu, na quarta-feira, suspender as tarifas por 90 dias. No entanto, manteve uma tarifa uniforme de 10% para todos os países, exceto a China, que continuou sujeita à alíquota de 104%. Esse recuo parcial em relação à União Europeia e a países asiáticos menores trouxe um breve alívio aos mercados, que reagiram com forte alta diante do anúncio. Contudo, o otimismo se dissipou já entre ontem e hoje.

Apesar da redução pontual das tarifas, os danos ao comércio global permanecem significativos. Ainda mais grave, porém, é o abalo à confiança e à reputação dos Estados Unidos — prejuízos intangíveis, mas potencialmente mais duradouros. O país, antes símbolo de prosperidade sustentada por estabilidade política e liberalismo econômico, vê agora rachaduras em sua autoridade moral, com uma intensidade que nem seus maiores inimigos sonharam provocar. Os reflexos já se manifestam no comportamento dos Treasuries de 10 anos e na volatilidade do dólar.

Nesta sexta-feira, em mais um capítulo da guerra, as tarifas americanas contra produtos chineses foram elevadas para 145%, enquanto a China retaliou, aumentando suas alíquotas para 125%. Essas medidas, na prática, inviabilizam o comércio bilateral entre as duas maiores economias do mundo. A China já sinalizou que não elevará suas tarifas sobre produtos americanos além do patamar atual de 125% — não por recuo na disputa, mas por considerar que a guerra tarifária “perdeu qualquer sentido econômico”, segundo o próprio governo. Com tarifas nesse nível, a importação de produtos americanos torna-se inviável do ponto de vista comercial. Tudo indica que a China seguirá com o processo de desacoplamento iniciado por Trump, aprofundando o distanciamento econômico entre as duas maiores potências globais.

A Europa suspendeu as tarifas retaliatórias impostas aos Estados Unidos após Trump recuar e aplicar a suspensão temporária. O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou essa suspensão como frágil, sinalizando que a União Europeia deve buscar o fortalecimento de laços comerciais com outros países, a fim de reduzir sua dependência econômica em relação aos EUA.

Brasil

O IPCA apresentou uma desaceleração de 1,31% em fevereiro para 0,56% em março, dentro das expectativas do mercado. No entanto, o acumulado em 12 meses subiu de 5,06% para 5,48%, permanecendo bem acima do teto da meta de inflação. O grupo Alimentos e Bebidas — tradicionalmente sensível por seu impacto direto no custo de vida — foi o principal responsável pela alta no mês, com avanço de 1,17%. Trata-se, inclusive, do calcanhar de Aquiles do governo, já que pressiona a popularidade do presidente.

No primeiro trimestre deste ano, a saída de capital estrangeiro atingiu um recorde ao somar US$ 15,8 bilhões. A balança de pagamentos registrou uma evasão de US$ 23,1 bilhões na conta financeira — reflexo do envio de lucros acumulados ao exterior e do pagamento de dívidas —, enquanto a balança comercial (exportações menos importações) apresentou um superávit de US$ 7,3 bilhões. A instabilidade global provocada por Trump tem contribuído para esse cenário.

Na B3, o fluxo de investidores estrangeiros acumulava entrada líquida de R$ 18,4 bilhões até 27 de março. No entanto, entre os dias 28 de março e 9 de abril, houve uma saída diária de recursos, totalizando R$ 8,9 bilhões e reduzindo o saldo positivo no ano na Bolsa para R$ 9,4 bilhões.

Juros EUA

Essa suspensão parcial das tarifas trouxe alívio aos investidores que, somada à divulgação do CPI abaixo do esperado, reacendeu no mercado a expectativa de três cortes de 0,25 ponto percentual ainda este ano — apesar de analistas considerarem dois cortes uma projeção mais realista. Além disso, declarações recentes de três autoridades do Federal Reserve afastaram, por ora, a possibilidade de retomada do ciclo de cortes, citando a incerteza provocada pela guerra tarifária.

Mercados globais

O conteúdo deste informativo pode estar desatualizado no momento da leitura — tamanha foi a velocidade das reviravoltas ocorridas nesta semana no contexto da guerra tarifária. Segundo palavras de Janet Yellen, ex-presidente do Federal Reserve e ex-secretária do Tesouro: "Esta foi, na história, a maior ferida auto infligida que um presidente de uma economia desenvolvida causou ao seu próprio país."

O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) surpreendeu ao registrar uma deflação de 0,1% em março, contrariando a expectativa de alta de 0,1%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses recuou de 2,8% para 2,4%.

O PPI (Índice de Preços ao Produtor) também surpreendeu, mostrando deflação de 0,4%, frente à expectativa de alta de 0,2%. Embora os aumentos nos preços de produtos importados ainda não tenham se materializado nos EUA, a queda na demanda interna já começa a se manifestar.


O destaque da semana ficou por conta do ouro e dos Treasuries de 10 anos. O metal subiu 6,7% no período, acumulando alta de 23,5% no ano, e reforçando sua posição como porto seguro diante de instabilidades políticas e econômicas.


Os Treasuries de 10 anos, por sua vez, apresentaram um comportamento atípico. Após uma forte valorização na última sexta-feira, impulsionada pela fuga para ativos de segurança em meio à escalada da guerra tarifária — movimento que derrubou os yields e favoreceu a rolagem da dívida americana ao longo do ano —, os títulos registraram uma queda significativa já na segunda-feira, surpreendendo o mercado.


A movimentação levantou suspeitas de que a China estaria vendendo parte de seu enorme estoque de Treasuries como retaliação, com o objetivo de dificultar o refinanciamento da dívida dos EUA. No entanto, posteriormente foi revelado que o movimento de venda teve origem na desmontagem de posições alavancadas conhecidas como basis trade — uma estratégia de arbitragem entre o título à vista e seu contrato futuro. A volatilidade atípica nos preços dos Treasuries desencadeou o desmonte dessas operações, explicando o súbito recuo no preço e alta no yield. 

Comentário final

Como já abordado, as tarifas recíprocas entre Estados Unidos e China

tornaram-se economicamente insustentáveis. Nenhuma das duas economias é

autossuficiente em termos produtivos e comerciais; há uma interdependência

estrutural consolidada ao longo das últimas décadas. A persistência de barreiras

comerciais nesse nível compromete cadeias globais de suprimentos, distorce

preços e afeta diretamente a alocação eficiente de recursos em escala global. Essa

disputa de "ver quem pisca primeiro" está chegando ao limite, e, cedo ou tarde,

alguém terá de ceder. Caso contrário, as consequências podem ser profundas e

difíceis de prever.


Até a próxima semana!


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